Alunas do 1º e 3º anos recitando o cordel. |
SECA NO NORDESTE: A peleja da ciência com a
experiência do homem da roça.
(APRESENTADOR(A)
Olá pessoal,
apresentaremos a vocês uma peleja com dois poetas da nossa região; isto é, uma
poetisa e um poeta. Desse lado Maria da
Silva, professora e pesquisadora que sempre se incomodou com as conseqüências
da seca e tenta explicar às pessoas este fenômeno que maltrata o Nordeste
brasileiro. Do outro lado o Sr.
Francisco Moura de Lima, conhecido como Chico da Beata, um agricultor
experiente, conhecedor dos problemas da seca e que por meio das suas
observações na roça é capaz de dizer os motivos e até profetizar coisas da
natureza, pois, afirma ser devoto do padre Cícero e segundo ele, nunca errou
uma profecia de seca ou inverno. Com vocês:
Maria da Silva e Chico da Beata.
I
(M.S) Meus senhores e senhoras
Povo jovem, minha gente
Vou declamar pra vocês
Alguns versos no repente
Quais são as causas da seca?
Porque ela é tão presente?
II
(C.B)
Eu cumprimento a todos
Homem menino e mulher
No meus verso vou dizer
Sobre a seca o que ela é
Quem me ensinou foi a roça,
Também sou homem de fé
III
(M.S)
Fiquem todos já sabendo
Que o fenômeno é antigo
Desde os tempos de Cabral
A seca é o grande inimigo.
Não tem a ver com promessa
Nem com reza, nem castigo
IV
(C.B) É muito pelo contrário
As “vêis” vem pra castigar
Muita gente que é sem Deus
Que não quer se ajoelhar
Pra pedir um bom inverno
E as nossas terra molhar
V
(M.S)
As causas são naturais
Isto até foi estudado
O tal polígono da seca
Figura com muitos lados
Acontece no Nordeste
E atinge oito estados
VI
(C.B)
A experiência provada
Pra nós tem muito valor
Desde dois mil e doze
A seca veio e ficou
No céu voou tanajura
Mas o chão seco ficou
VII
(M.S)
Menos chuvas e calor
São estas as previsões
Algo pior está por vir
É preciso intervenções
Há cientistas prevendo
As desertificações
VIII
(C.B) Profeta do mau agouro
Vira essa boca pra lá
Ano que vem é inverno
Vocês podem acreditar
Vi um pau seco na roça
Com as formiga “friviar
IX
(M.S) Sua experiência é boa
Porém, ponha o pé no chão
O homem fere a natureza
Pra depois pedir perdão
Mas a natureza é sábia,
Sabe dar sim e dar não
X
(C.B)
Nós da roça também sabe
O sinal que a abelha dá
Quando elas fica sumida
O inverno custa a pegar
As chuva fica mais pouca
Se quiser pode anotar
XI
(M.S)
Teimar pra mim é perdido
Porque o certo é o certo
De consciência tranquila
Prefiro enxergar de perto
Pois, se não tiver cuidado
Nós vamos virar deserto
XII
(C.B) Deserto é sua cabeça
Que só fala coisa ruim
Nosso senhor vai prover
Pro gado vai ter capim
Tem melhor informação
Que pegar com os cupim
XIII
Vem da localização
Massa quente de ar seco
Predomina no sertão
Com a baixa umidade
Não há precipitação
XIV
(C.B) As coisa num acontece
Do jeito que você quer
Tem os aviso que vem
Pelas mensagens da fé
Nós se baseia nas chuvas
Do dia de São José
XV
(M.S) A meteorologia
Faz toda investigação
Temperatura, umidade
A atmosfera e pressão
Na maioria dá certo
A ciência tem razão
XVI
(C.B) A experiência da roça
Num troco ela por nada
Se a barra do nascente
Em janeiro sai manchada
O inverno tá garantido
Já é coisa confirmada
(M.S) XVII
Sou versada na ciência
Desconheço outro jeito
Precisamos entender
Que há causas e efeitos
Trabalhar com adivinhos
É fora do meu conceito
XVIII
(C.B) Você já viu como faz
A abelha do arapuá?
Ela fica muito gorda
Se a seca tá pra chegar
A experiência da roça
Não se pode desprezar
XIX
(M.S) Estou
aqui pra mostrar
A ciência e o seu valor
Para entender a seca
Muita gente estudou
Quer ver o clima de hoje?
Olhe no computador
XX
(C.B) Chega de tanta peleja
A lei vem do pai eterno
Ano que vem vai ser bom
Muita chuva e inverno
Pois quem duvida de Deus
Morre seco no inferno
XXI
(M.S) Agradeço aos presentes
Pela atenção dispensada
Em dois mil e dezessete
Também quero invernada
Sou nordestina também
E sem chuvas somos nada.
APRESENTADOR(A)
Encerramos esta peleja e agradecemos a todos pela
participação. Lembramos que não temos nenhum interesse de colocar a ciência
como mais importante, muito menos a experiência do homem da roça; queremos
apenas nos distrair e ressaltar que trabalhando unido, respeitando cada
conhecimento, poderemos viver numa sociedade melhor.
(Participantes do duelo se despedem
com um abraço)
Autor:
José Holanda
Oliveira (18/10/2016)